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ARTE EM PROCESSO
ART IN PROCESS / ART EN PROCÈS / ARTE EN PROCESO

FERNANDO RIOS

A obra de arte é uma tentativa de comunicar o incomunicável: a emoção.

A obra de arte é o resultado de uma emoção. E a emoção é intransferível, incomunicável.

A obra de arte é o resultado de várias emoções intransferíveis, incomunicáveis.

O artista plástico tenta registrar emoções, concretizá-las no espaço bidimensional ou tridimensional da obra de arte.

A dança é composta por gestos. A sucessão de gestos traz como conseqüência uma série de movimentos. Que podem emocionar. Mas a dança não é a emoção. Emoção é o que ela provoca no espectador. Emoção é o que sentiu o coreógrafo ao criar os movimentos.

O artista plástico, ao criar uma obra de arte, atravessa vários momentos. Ele jamais se coloca diante de um projeto de obra de arte e, no momento seguinte, a obra se concretiza. A criação é um processo. Muitas vezes, nem o artista sabe de sua origem. Mas ele sabe que o resultado é conseqüência de muita emoção, ou muitas emoções.

Qual o percurso do artista entre a concepção e a concretização da obra de arte?

Que referências, que técnicas, que tecnologias, que emoção, que emoções ele reúne para concretizar uma obra de arte?

Aquilo que o espectador vê é a somatória de passados, de presente, mais momentos, mais circunstâncias, tudo configurando um mapa tridimensional da vida do artista que se vai expressando em um espaço e tempo, enquanto categoria única, na qual ele concretiza seu trabalho. Um trabalho que, ao ser idealizado, se lança para o futuro. O artista trabalha, concomitantemente, com todos os tempos: passado, presente e futuro.

O artista é um trabalhador. Ele transforma emoção em obra de arte.

Ele transforma emoções em obra de arte.

Qual é o caminho do artista?

É um caminho sinuoso, cheio de atalhos e de mudanças de rumo. O artista raramente sabe de que maneira sua primeira idéia será concretizada e que percursos ele percorrerá para desenvolvê-la e realizá-la. Nem que ouras idéias surgirão no processo.

Por que desvendar esse percurso?

Porque a obra de arte continua sendo o percurso de uma idéia e/ou emoção, ou de várias idéias e/ou emoções; ou a somatória de idéia e/ou emoção ou idéias e/ou emoções. Tudo incomunicável.

Contudo, há registros: esboços, estudos, textos, visões, músicas, conversas, literatura.. Mas isso raramente chega ao espectador. E comumente, a realização da obra tende a ser uma experiência solitária.

Porém, cada etapa do trabalho artístico pode ser registrada. E informada.

Mas a emoção continua sendo incomunicável. Porque essa emoção, por mais que esteja presente no fazer artístico, jamais consegue se transformar em comunicação, jamais consegue se comunicar.

Nesta proposta, o registro de cada etapa de construção da obra de arte é uma tentativa de expressar o registro de uma emoção incomunicável.

O resultado final da obra de arte é a somatória das várias emoções nos vários tempos.

Emoções e sentimentos.

A proposta é fazer uma arte em processo, ou seja, uma arte que se mostra enquanto o artista se emociona.

E cada etapa é apresentada ao espectador, não para que ele experimente a emoção do artista, e sim para que ele veja como o artista registrou sua emoção e, se for o caso, também se emocione. Com a sua própria emoção, jamais com a do artista.

A arte em processo pretende facilitar a decodificação da obra de arte pelo espectador. E apresentar o percurso do registro artístico dos vários momentos em que o artista se emocionou.

A emoção ficou registrada na memória do artista.

E a emoção do espectador será somente a que ele experimentar diante da obra de arte.

Artista e espectador experimentam emoções incomunicáveis.

O espectador poderá viver, sentir, experimentar melhor a obra de arte se ele perceber o processo artístico. Evidentemente, isso não garante que ele vá se emocionar ou gostar da obra. Mas, certamente, ele poderá compreender melhor o gesto artístico. E, quem sabe, sentir mais a obra de arte.

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A arte em processo tem uma parte de sua origem na arte conceitual, sobretudo nos conceitos propostos por Joseph Beuys. Mas não se configura nem se constitui como tal. Propõe-se apenas a ser arte em processo. E, em alguns casos, o processo poderá se ampliar e se enriquecer com a participação do espectador.

SÃO PAULO, FEVEREIRO DE 2010.

fernando rios comunicação organizacional - fernando_rios@terra.com.br



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